O país parece limitado a explorar o turismo (se o aquecimento global não nos desertificar antecipadamente). Qualquer outra opção parece condenada ao fracasso a médio prazo.
À pesca, e indústria transformadora a ela associada, a UE dá prioridade à armada Espanhola. Na agricultura manda a França com a mais proveitosa fatia da PAC. A indústria de extracção de matérias-primas está confinada à pobreza relativa do solo português. Restam os serviços, mas estes só para consumo interno, não acredito que a central Bruxelas se permita ir à zona periférica portuguesa tratar de assuntos da banca ou seguradoras, que movem milhões. A cultura é secundária para qualquer Governo. A aposta nas novas tecnologias e energias parece um bom investimento, mas é avultado. Com a crise internacional e um défice de 8% não parece que o Estado possa injectar capital para um desenvolvimento sustentado, com aposta na Educação, e concreto, que permita a exportação de conhecimento e material.
Viveremos, então, apenas de turismo e artesanato? ASENSIO
Finalmente percebe-se onde anda Fernando Lima. Continua na Casa Civil da Presidência, o que revela que Cavaco Silva mantém a confiança no seu assessor. O que também revela muito sobre a polémica das supostas escutas enviadas para os jornais. Enquanto estiver na memória colectiva, manter Fernando Lima na Casa Civil fragilizará o Presidente. ASENSIO
Agora que o turbilhão causado pela operação "Face Oculta" parece ter amainado, podemos recomeçar a discutir política? Já basta de tentar fazer cair um Governo com intrigas e alegações de envolvimento em casos de corrupção nunca fundamentados. Se o Governo PS tiver de cair que seja pelas suas opções políticas e não por uns mal-amanhados rendilhados judiciais. ASENSIO
A entrada em vigor do Tratado poderia acontecer exactamente na mesma data caso houvesse um referendo. Se a ideia fosse, desde início, questionar os cidadãos sobre o Tratado, a preparação escrutínio teria sido rápida como aconteceu noutros países. E caso o "sim" ganhasse estaríamos na mesma a "celebrar" a sua entrada em vigor. O problema é que o Governo temia uma nega em referendo. A data de 1 de Dezembro em nada justifica a opção de deixar os europeus deste rectângulo fora da decisão. ASENSIO
O mais provável é que o PM requente um dos muitos discursos sobre cabalas e campanhas negras e o repita ad eternum. A melhor opção seria uma declaração aberta e sincera sobre qual o seu envolvimento, se o houve, nas escutas da investigação "Face Oculta". Não acredito que o faça, seguirá o caminho do conflito com a justiça e com os agentes políticos interesseiros. E seguir-se-á uma protectora palete de legislação.
É hilariante a evidente discrepância de tratamento entre as expulsões nos partidos. Apenas as saídas forçadas de elementos comunistas parece causar celeuma e polémica. Se todos os partidos recorrem a este expediente para afastar militantes que não cumprem os regulamentos, explique-se, então, porque é o PCP o único partido julgado incansavelmente quando toma semelhante atitude. ASENSIO
Não muitos dias após a derrota eleitoral, MFL repete os mesmos erros. Os ataques a Sócrates, com esta forma e nestes conteúdos, não lhe proporcionaram benefícios alguns, antes pelo contrário. Sócrates ganhou as legislativas apesar do caso Freeport, da licenciatura na Independente e até das supostas escutas ao PR. Para ganhar a confiança dos eleitores, MFL tem que tornar-se uma alternativa, esforço para o qual se mostra incapaz. ASENSIO
[...]O paradigma tradicionalista, que se defende com a História começa por esquecer que é tão tradicional a defesa da praxe como o seu combate. A praxe é tradicionalista no pior dos sentidos. A cada tempo dos vários tempos dos últimos 150 anos, a praxe esteve sempre contra as mudanças estruturais dos sistemas políticos e sociais. Com a Monarquia contra a República, contra a Revolução e pelo Estado Novo. Nas duas principais revoluções do último século da nossa História a praxe foi suspensa, não só como forma de luta, mas acima de tudo por ela ser absolutamente contraditória com os ideais progressivos que floram nesses períodos. Outro lado pernicioso quanto ao carácter das tradições académicas é o facto de elas perpetuarem e ampliarem sempre as características mais conservadoras da sociedade. Se a sociedade é machista, homofóbica, classista, punitiva, e hierárquica, sob a batuta da estranha selecção do darwinismo social, a praxe ainda amplifica cada um destes defeitos. As mulheres não podem ser duxas nem cantar o fado, o conselho é de veteranos, os gays são figuras de gozo e de chacota (como de resto as derivas à “normalidade”), o caloiro é bicho e animal, “figura infra-humana para o gáudio dos doutores” com mais umas quantas matriculas e o código da praxe viola, sem sufrágio, direitos, liberdades e garantias consagradas na lei de todos.
O paradigma da integração justifica que se cite um livro curioso. Intitula-se “Coimbra Boémia”, livro este que como tantos outros livro de memorias da cidade velha, podemos constatar a violência dos relatos de antigamente, sem cosméticas nem falsas retóricas. Diz o livro: “o caloiro é para saciar os desejos dos doutores, é para entreter”. Integrar, é uma palavra que vem na praxe sempre com um duplo sentido, e são os relatos que o confirmam. No Coimbra boémia, dos anos 40, percebe-se bem o terror das repúblicas praxistas, as perseguições, as milícias, a arrogância ante os trabalhadores (futricas) bem como a simpatia do fascismo pelas trupes e vice-versa. O argumento da integração, usado muitas vezes pelos românticos da praxe, não é mais do que isso mesmo, uma visão romântica, sem nenhum facto da realidade que o suporte. Mandar, rapar, bater, humilhar, perseguir a diferença, nada tem de romântico e muito menos inclui. Permite isso sim, que a violência fique disponível nas mãos de tantos que para ai andam tão pouco sensatos, e que usam da praxe como uma auto-estrada rumo à cura das mais recônditas frustrações. Bateram-me…, pois baterei; raparam-me…, pois raparei, e assim sucessivamente, olho por olho dente por dente, até à derrota final, no ano da cartola e do juízo.[...]
O Homem é um ser que necessita de explicações para não sentir viver em puro absurdo. Quando as razões nos ultrapassam, foge-nos também a ideia (falsa) de controlo sobre o que nos rodeia.
Talvez uma situação semelhante tenha surgido na vida de um homem para que este decida terminar uma busca por respostas.
Ou então, somos nós, no meio do espanto, a procurar incansavelmente razão que nos arrume o mundo e nos devolva a noção de controlo que nestes momentos sempre nos abandona. ASENSIO