Estas declarações e debates sobre o modo de ratificação do Tratado Europeu revelam, de forma clara, a demagogia e incoerência de um governo que não sabe como defender a posição que agora toma. Vejamos exemplos:
Por outro lado, «José Sócrates considerou que há uma ampla maioria de portugueses a favor do projecto europeu e que uma consulta popular em Portugal teria implicações negativas em outros Estados-membros, colocando em causa processos de ratificação por via parlamentar.» Se uma ampla maioria apoia o projecto e o resultado do referendo se adivinha positivo para a ratificação do Tratado, então de que forma poderia um referendo de vitória inquinar outros processos de ratificação, por via referendária ou parlamentar? Também me lembro de ouvir José Sócrates a defender que, em Democracia Representativa, não se pode inferiorizar a votação parlamentar relativamente ao referendo. Então, se outros estados-membros decidissem a ratificação no parlamento, de que forma poderia essa forma de decisão ser inferior à decisão por referendo? Tal situação só aconteceria num país onde, quando em eleições, fosse clara a promessa de referendo, para, logo depois, esta opção ser largada em favor da ratificação parlamentar. Pasme-se, esse país é Portugal!
«Se houvesse um movimento, em todos os países, na maior parte ou num terço [a fazer o referendo], Portugal podia e deveria fazê-lo», diz José Sócrates. Ou seja, Portugal é um país tão forte, no seio europeu, que a sua decisão sobre a forma de ratificação poderia contaminar as decisões dos outros Estados-Membros. Mas, ao mesmo tempo, se um terço desses Estados decidissem referendar a ratificação, então, Portugal tornar-se-ia um país fraco, seguidor dos movimentos dos outros. Decida-se, ou somos reboque, ou somos rebocados.