Há um receio/questão que se me insurge no pós-ralhete de Cavaco Silva e que não passa pela óbvia responsabilidade de Cavaco, como agente político há mais de 20 anos, pelo alheamento da sociedade em relação à política. Como não acredito num eco positivo vindo dos deputados da AR, pergunto-me se o objectivo máximo dos responsáveis políticos não será precisamente afastar os cidadãos das esferas de decisão, admito que de forma inata e inconsciente, eternizando, elitizando e monarquizando os seus cargos e magistraturas. A política portuguesa, opaca, impenetrável, repleta de lucros escondidos e com o interesse nacional, imperceptível, diluído nos compadrios deteriorantes do sistema, tem-se mostrado ferramenta perfeita para o afastamento da sociedade civil, que tem desistido até de se envolver quando, por obrigação democrática, é chamada a decidir. Por vezes temo que tal perfeição só possa existir como consequência de um interesse colectivo superior. Estarei a isentar em demasia a sociedade civil do problema? Talvez. Mas acredito que o esforço tem que ser feito de ambos os lados e que o lado político não se tem coibido em desviar o comum cidadão das áreas de decisão. Temos provas evidentes disso... ASENSIO